Entrevista a Jesús Vázquez Cancela
Jesús Vázquez Cancela é um bom de como alcançar éxito e reconhecimento desde uma pequena povoação galega num sector tao complexo e pessoal como o de cabeleireiro.
Não podíamos deixar passar a oportunidade de entrevistá-lo. aproveitando que tivemos o prazer de contar com a sua colaboração no Saloon Look de Madrid 2017.
1- Por que te interessaste pelo mundo do cabeleireiro?
Sou filho de uma cabeleireira, e já desde pequeno isso chamou a minha atenção. Con 14 – 15 anos estudei para cabeleireiro. Já levo 30 anos dedicado ao mundo das tesouras e cada dia estou mais apaixonado pela minha profissão.
2- Na verdade, estás no ramo de cabeleireiros para homens.
Correto, apesar ter começado como cabeleireiro de senhoras. Os trabalhos técnicos eram o que menos gostava, mas adorava cortar e pentear. E nada melhor do que a barbearia para cortar e pentear, pois é o que mais se faz.
3- Uma das coisas que mais chamou à atenção na tua trajectória, foi a decisão de abrir um gabinete de estética num negócio para homens. De onde surgiu essa ideia?
Porque creio sinceramente que o homem é um potencial consumidor de cosmética e, sobretudo numa localidade pequena como a minha, o homem é reticente em entrar em salões de senhoras ou em locais específicos de estética pelo “o que iriam dizer”. Torna-se muito mais fácil ir ao salão a que estão acostumados, um lugar um pouco mais intimo e acolhedor, onde possam estar à vontade para dizerem que querem fazer algum tratamento. De facto, vais vendo como as pessoas arranjam as sobrancelhas, fazem depilação, limpeza de pele, tratamentos faciais e corporais, massagens, depilação a laser, de tudo um pouco. Gostam.
4- O sector orientado para homens evoluiu muito rápido nos últimos anos. A Espanha passou do ver a barba como algo negativo, associado a uma imagem de “querer ocultar algo”, a convertir-se num país de referência no mundo ^”Barber”. Como explicarias esta evolução?
Desde uns 5 ou 6 anos, a barbearia voltou a despontar. Faz muitos anos que a barbearia esteve em declínio com o aparecimento dos cabelos compridos, com os Beatles e figuras similares. Os barbeiros daqueles tempos não sabiam fazer cortes em cabelos compridos, pelo que começaram a aparecer os cabeleireiros unissexo. Com o passar dos anos, isto evoluiu muito, começa a haver uma preocupação pela aprendizagem. Além disso, voltou uma série de cortes que predominavam nas barbearias, como os “fades”, por exemplo. Isto foi usado pelos barbeiros para voltarem a surgir em força, juntamento com o feito de que tanto os profissionais como o público se começaram a dar conta de uma série de coisas, tais como a imagem mais masculina e a liberdade de opções que a barba permite. A barba é a maquilhagem do homem: se tiverem um pouco de “papada” e a quiserem dissimular, deixam crescer um pouco a barba. Se tem a cara muito redonda, podem “esticar” ao deixar a barba um pouco mais comprida. Se tiverem a cara demasiado “curta”, podem baixar um pouco o corte nas bochechas deixando a cara mais alongada. Se tiverem pouco pescoço, podem subir a barba dando a impressão que tem mais. Todo este “parece que” é igual ao que maquilhagem faz nas mulheres: “parece que” tenho mais maçãs do rosto, ou mais lábios, olhos mais grandes, etc.
5- Que acontecimentos destacarias como os mais marcantes para ti ao longo da tua carreira?
Há muita gente que te marca. Sempre disse que um bom barbeiro tem que passar pelo mundo do cabeleireiro de senhora porque há que saber trabalhar com uma escova redonda, há que saber aplicar cores e realizar outras técnicas, porque hoje em dia no mundo da barbearia também se fazem trabalhos técnicos, não é só saber cortar e pentear. Há gente muito boa como o Vidal Sassoon que foi um artista, pessoas hoje em dia na Galiza como o Antonio Calvo ou a Amparo Fernández. Considero um pouco a Amparo como minha madrinha porque ela permitiu-me visitar outro mundo, o das colecções. A primeira colecção que fiz foi com a Amparo Fernández. Fizemos uma colecção lindíssima com crianças. Elas com as meninas e eu com os meninos. Ensinou-me imenso. A nível internacional temos gente espectacular. Ontem, ver trabalhar o grupo Gandini foi impressionante. Em Espanha também, temos a Jordi Pérez que acaba de estar no Royal Albert Hall de Londres, Manuel Mon nas Asturias, etc. No dia a dia conheces pessoas fantásticas e todos te ensinam algo.

*Fotografías propiedad de Jesús Vázquez Cancela.
6- Qual consideras ser o teu factor diferencial?
Todos que trabalham nesta área tem a sua identidade. Muitas vezes,quando nos apresentamos em concursos ou colecções, conseguimos identificar de quem é cada trabalho apenas ao olhar para ele. A minha particularidade é polir demasiado os trabalhos, fazer cortes e penteados perfeitos, linhas de corte e barba muito marcadas. Por esse motivo, em alguns concursos onde se busca outras coisas que não polir tanto, para deixar tudo mais natural, a mim não me sai. Somos três pessoas a cortar no salão, um deles está comigo há 16 anos e aprendemos um com o outro. Trabalhamos mais ou menos da mesma forma e somos totalmente diferentes. Eles faz coisas de forma perfeita que eu não consigo fazer, e vice versa.
7- Com um perfil tao irrequieto e inovador como o teu, certamente já terás novos projectos na tua mente. Podes adiantar algum?
Agora mesmo estamos a duas semanas dos prémios Imaxe Galicia, os primeiros prémios do ramo na Galiza, e eu sou um dos três finalistas em comercial masculino. Tenho uma nova coleção que irá ser apresentada agora em Barcelona em “Barbearias com Encanto” e na feira de Barcelona apresentaremos outro.
O 6 de Dezembro estará tudo encaminhado para fazer a nova coleção para o próximo ano que acreditamos que será a nova tendência.
Alem disso, no próximo ano trocaremos de lugar. O salão passará de 63 metros quadrados a 115. Será no mesmo edifício mas com mais espaço.
8- En função da tua experiência e visão do futuro, que tendências crês que começaremos a ver a partir de agora?
Começam a desaparecer as barbas super compridas, estão a ficar mais curtas e menos extensas. As pessoas começam a entrar na coloração da barba. Sem cores berrantes,mas para dissimular os pelos brancos. Não vemos “fades” tão extremos mas continuam a estar presentes. Têm o seu público, tal como foi o caso das patilhas no seu pico, quase desapareceram mas há sempre alguns nostálgicos que continuam a usar durante muitos mais anos. Hoje em día praticamente já não se fazem as patilhas em bico. Ficamos com um cabelo um pouco mais comprido, menos penteado, menos “pompadours” mas sim algo mais comprido e informal. Também vem o corte césar, ainda que acredito que seja muito passageiro, porque é para um público muito específico com umas características fisiológicas muito particulares. O corte um pouco mais comprido pode ser usado por quase toda a gente. Desse modo distanciamo-nos dos “degradés” e aproximamo-nos de penteados um pouco mais compridos e naturais. O uso de produtos como ceras ou pomadas será favorecido por estas tendências. Irão se usar muitas pastas para modelar o cabelo.
9- Para terminar, gostaríamos de agradecer a tua colaboração e acabar com uma pergunta obrigatória: O que te chamou à atenção na Farmagan para que tenhas decidido estar hoje connosco?
Farmagan e Point Barber em concreto, é uma linha muito compacta. Nós homens somos muito lineares, não precisamos de uma gama de 17 champôs e 15 tipos de gel, o que queremos são 3 coisas bem definidas. Temos um champô para barba e cabelo que é fantástico, já não necessitamos de ter um para a barba, outro para o cabelo e outro para não sei o quê. Temos 4 produtos de finalização: uma cera mate, uma fibrosa e duas pomadas. Também um par de geis e alguns produtos de barba. Em definitivo, temos o que necessitamos, não falta nada. Alongares-te numa gama muito ampla só serve para sobrecarregar o armazém do profissional. Há produtos que a mulher continua a comprar para o homem, como o gel de duche e coisas do género, mas hoje em dia há certos produtos que queremos ser nós a escolher, como uma cera, um gel ou uma pomada, porque queremos esse produto em concreto que nos recomendou o barbeiro ou que já experimentamos e gostamos. A vantagem de Point Barber é que se trata de uma linha super compacto, super curta e, para mim, perfeita. Com uma imagem muito boa e masculina. No meu ponto de vista, uma linha “top”.
Muito obrigado Jesús pela tua atenção e profissionalismo!
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